Alex: "Meu contrato acaba em maio de 2011. Por isso já começo a pensar em voltar ao Brasil"

Posted by Nadja | | Posted on sexta-feira, abril 16, 2010

Há seis temporadas fora do Brasil, o curitibano Alexsandro de Souza encabeça a lista dos paranaenses mais bem-sucedidos no futebol mundial. Revelado nas categorias de base do Coritiba, foi ídolo em praticamente todos os clubes em que passou. De Istambul, onde vive com a família e defende o Fenerbahçe, Alex falou sobre a carreira e também sobre a possibilidade de voltar ao Brasil em 2011.

Você já fez mais de 250 partidas pelo Fenerbahçe e já está na sua sexta temporada no time turco. O que fez você optar por ficar no Fener por tanto tempo?

Quando eu saí, em 2004, do Cruzeiro minha intenção era cumprir o contrato que tinha feito na época, que era de 3 anos. Depois disso queria sair, ir para um centro maior. A possibilidade existiu, em 2007, quando meu contrato estava acabando. Abri negociação com o Borrusia Dortmound, mas o treinador que pediu minha contratação acabou saindo. Depois vieram algumas equipes da França, Portugal, e também da Espanha. Conversei, ouvi, ponderei vários fatores, mas nenhuma proposta me fez pensar em sair e eu fui renovando meu contrato. Não me arrependo, sempre busquei identificação onde passei e isso me satisfaz.

Como é a estrutura do futebol turco?

Os grandes times como o Fenerbahçe, Galatasaray, Besiktas e Trabzonspor têm uma estrutura muito boa. A estrutura física das equipes é boa, o que falta são profissionais de futebol. No Brasil, existem fisiologistas, nutricioonistas, além de vários auxiliares. Essa situação aqui eles acham desnecessário. Na minha equipe, depois de ter o Zico e o Luís Aragonés como treinadores, que passamos a ter tudo isso. É uma liga dura e complicada de se jogar, que não agrada aos olhos brasileiros.

No Brasil você defendeu o Coritiba, o Cruzeiro, Flamengo e o Palmeiras. Qual a diferença do futebol brasileiro para o turco?

A técnica, a forma de treinamento, a parte tática, o trabalho da imprensa, o trabalho da base. Poderia citar mais situações até. O futebol e a estrutura existente no Brasil é totalmente diferente da Turquia.

O futebol turco tem muito dinheiro e paixão do torcedor. O que falta para ser considerado uma das ligas de primeiro nível da Europa?

Eu considero as ligas da Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália como as principais. Depois vêm as outras em um segundo plano. Não vejo a Turquia inferior às escolas tradicionais como França, Holanda ou Portugal. Eles possuem dinheiro e interesse, mas têm uma preocupação interna muito grande. Essa abertura de pensamentos e investimentos para uma exposição maior fora do país está começando a ser feita agora.

O clássico com o Galatasaray sempre é, literalmente, uma batalha. Como é vestir a camisa do Fener em um jogo assim?

Somos considerados soldados que estamos indo para uma batalha e não para uma partida de futebol. Fui e às vezes ainda sou muito criticado por não aceitar essa situação de guerra. Vejo como um grande clássico. Mas para o povo turco realmente extrapola o futebol. Para eles é uma situação à parte de tudo.

A torcida do seu time é fanática e muito numerosa. Pesquisas apontam que é uma das maiores do mundo. Como você compara essa paixao às das torcidas brasileiras?

Dizem que a nossa torcida passa de 40 milhões de pessoas. Com certeza é uma das maiores do mundo. Eu realmente não comparo com o Brasil, porque aqui tem muito mais fanatismo. Nunca vi, no Brasil, senhoras comprando jornais esportivos, casais indo se casar no estádio, pessoas andando com roupas relacionadas ao clube e promoções feitas pelo clube serem tão bem aceitas. Ninguém está preocupado com o momento do time, eles querem ver o clube, participar, fazer o melhor pelo clube. Isso no Brasil não acontece. É só olhar as médias de público, as dificuldades que os clubes passam, às vezes até para pagarem o custo do estádio do dia do jogo. Realmente a diferença é enorme.

Como é o seu contato com a imprensa turca? Como era antes de você ter se tornado capitão e antes falar a língua com fluência?


Fico orgulhoso de ser o capitão porque foi uma escolha pública. O torcedor participou dessa escolha, passando pela diretoria até chegar no Zico, que era o treinador na época. Minha ligação com a imprensa é nenhuma. Falamos pouco com a imprensa em geral. O clube possui uma TV em canal aberto, que passa todas as notícias, dia após dia, para o torcedor. Falamos após as partidas (quem for escolhido para isso) ou de vez em quando em uma coletiva. A distância com a imprensa é enorme.

Quais as diferenças mais gritantes na sua rotina de vida e de treinos aí na Turquia para o que você vivia no Brasil? Quais seus hobbys aí?

Depende muito do treinador. Eu tive três treinadores aqui, um bem diferente do outro. Christoph Daum (técnico atual), que é alemão, o Zico e o Luís (Aragonés), espanhol. Mas existe um sistema que independe do treinador. Como no verão é muito quente, nosso “treino da tarde” é por volta das 19h, quando no Brasil normalmente acontece por volta das 16h. Já na parte da manhã, treinamos às 11h, enquanto no Brasil normalmente fica entre 9h ou 10h. Com esse treinador alemão, às vezes fazemos o regenerativo no momento em que chegamos de viagem, então muitas vezes cheguei a treinar às 3h, 4h ou 5h da manhã. Além disso, nunca há torcedores nos treinos, salvo uma excessão. Já os meus hobbys são bem simples. Ficar com a família, ler, brincar com os cachorros. Não sou muito de videogame, mas agora que a minha filha começou a jogar, às vezes brinco com ela, mas não tenho muita qualidade para isso.

Há seis anos longe do Brasil, como você vê o futebol paranaense? E também o brasileiro?

Eu vejo o futebol brasileiro como o mais difícil do mundo. Às vezes escuto que o futebol brasileiro é de baixo nível e nunca consegui ver isso. O futebol europeu é melhor na Champions League, onde estão os melhores jogadores do mundo. Mas se olharmos as ligas de maneira geral, não é assim. O Campeonato Brasileiro é o único que pode ter uma surpresa, em outros países isso não acontece. Onde é fácil de jogar no Brasil? É fácil ganhar do Grêmio no Olímpico? É fácil ganhar do Coritiba no Alto da Glória? É fácil vencer o Avaí em Floripa? Então, eu acho complicado jogar no Brasil também pela nossa escolha. É muito difícil jogadores ruins jogarem muito tempo, coisa que na Europa acontece, se forem dedicados, sérios e trabalhadores. No Brasil, só isso não serve. Já o futebol paranaense tem potencial, já mostrou isso em vários momentos, mas precisa de novas liderenças e ideias.

Mesmo à distância, você sempre acompanha o Coritiba. Como foi para você ver a queda do time no ano do centenário e também a invasão no gramado do Couto?

Tive o mesmo sentimento que todos os Coxas tiveram. Tristeza, desilusão, decepção e, principalmente, frustração. Quando eu vi a invasão, aquelas cenas, já imaginava que tipo de pena o clube pegaria, como aquele tipo de atitude afetaria o futebol do clube. Mas como o grande clube que é, o Coritiba vai superar tudo o que houve, se reorganizar e voltar para a Primeira Divisão.

Como jogador, você consegue identificar e apontar alguns erros cometidos pelo clube para o que aconteceu?

Não seria justo eu apontar erros, estou muito longe. Sou torcedor e agora fico na expectativa de que o clube melhore. Mas os erros existiram. Agora esse pessoal, tem que tentar consertá-los.

Você deixou marcas nos clubes que passou no Brasil. Quais lembranças boas e momentos dificeis que você guarda de cada passagem?

No Coritiba, a boa lembrança foi ter participado da campanha que devolveu o clube à Primeira Divisão, vencendo um Atletiba. A ruim foi ter perdido o Paranaense de 1996. No Palmeiras, a boa foi ter conquistado a Libertadores de 1999 e a ruim ter perdido nas penalidades o bicampeonato da Libertadores, em 2000. Já no Cruzeiro, o ano de 2003 foi inesquecível. A parte ruim foi ter sido mandado embora por telefone na minha primeira passagem, que até hoje não entendi.

Você já declarou várias vezes que pensa em voltar para o Brasil. Já tem uma data marcada para esse retorno?


Meu contrato acaba em maio de 2011. Por isso já começo a pensar em uma possível volta ao Brasil.

Voltando ao Brasil, o que um time precisaria para ter o Alex?


Objetivos que vão de encontro com os meus. Se pensarmos parecido, já é o suficiente.

Pelo fato de você ser curitibano, sua família ser daqui, ser torcedor e ídolo, o Coritiba leva vantagem na escolha?

Eu sou coxa! Esse é o Alex torcedor falando. E esse sentimento não vai mudar, vou morrer coxa-branca. Mas nunca confundi minha vida de torcedor com a de atleta profissional. Como profissional, já fui palmeirense, cruzeirense, flamenguista e hoje sou um fenerli. Como respondi na pergunta anterior, o clube que eu for defender terá que ter os objetivos próximos aos meus, se não, não vou. Sempre fui muito honesto nas minhas relações e todos sabem que sou coxa, mas isso na minha vida profissional pesa pouco. Porque sempre fui e continuarei sendo coxa-branca.

Você ainda tem muito futebol para mostrar. Mas depois que aposentar as chuteiras, pensa em um dia ir para o outro lado? Quem sabe em ser dirigente?

Não, realmente nunca pensei no caso. Já troquei ideias com amigos, uns dizendo que posso ser treinador, outros dirigente, outros comentarista, colunista, mas realmente nunca parei e fiquei pensando nisso. Mas vou começar, porque realmente o futebol está chegando ao fim.

Sempre que se fala em meio-campo e Seleção Brasileira, pensa-se em Alex. Você acredita que foi injustiçado na Seleção?

Eu acredito que desde 1998, quando fui convocado pela primeira vez, tinha qualidade para participar da Seleção Brasileira. Mas, infelizmente, não fui chamado para as Copas. Os treinadores, por razões que desconheço, preferiram outros nomes. Mas, sinceramente, não me sinto inferior a ninguém. Me via com qualidade suficiente para jogar os Mundiais.

Estamos próximos da Copa. Qual a Seleção favorita na sua opinião?


As tradicionais. Brasil, Argentina, Itália, Inglaterra e Alemanha. Mas a Espanha vive um momento mágico. Nos jogos em que vi a Holanda, também gostei muito. Mas na Copa sempre acontece de ter uma equipe que ninguém espera fazendo uma participação boa.

Dentro e fora de campo você sempre foi um jogador diferenciado. Muitos contam por aqui que não era difícil ver você com um livro embaixo do braço. Quais são seus livros preferidos? E você já pensou em escrever?

Realmente adoro ler. Uma das coisas que sinto falta fora do Brasil é poder entrar em uma livraria e ficar por ali escolhendo alguns livros, mas não tenho nenhum preferiro. Já li muitos. O último foi o do Maurício Noriega, a respeito de treinadores. Achei muito interessante. (O livro é “Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro”, Ed. Contexto). Brinco de escrever no meu site, brinquei no Coxanautas. Achei super interessante e me agradou bastante. Quem sabe no futuro eu escrevo coisas interessantes?

Neste final de semana, temos Atletiba, no Couto Pereira. Penúltima rodada do Paranaense. Dá para arriscar um palpite?

Coritiba 2 a 1 Atlético. Vi o primeiro Atletiba na Arena e fomos muito superiores. Se repetirmos a dose, seremos campeões.

Postado: 22h06
Colaboração: Fernando Rudnick

Comments (5)

Bem que esse poderia vir para o Atlético. Já pensou um meio com Paulo e Alex?
Parabéns pela entrevista e pelo trabalho.

Este comentário foi removido pelo autor.

Agora sim,finalmente consigo postar por aqui,aeeee!
hahaha
mas parabéns pela a baita entrevista feita com um dos jogadores que merecia ir pra Copa do Mundo pela a bola jogada tb no Fenerbahçe.Quem não queria ter Alex no seu time hein seja em Curitiba,ou seja em qualquer local?
mas para os times daí de Curitiba como o de todos tem que sempre concorrer com o pessoal de SP que sempre as vezes em sua maioria quer chegar com bombas do tipo.É nessas horas que o jogador que tem cabeça,terá bom senso de escolher o time.
beijos nadia e parabéns pela a entrevista!
meu blog: http://igoresportes.blogspot.com/

Parabéns pela entrevista! Eu sonho com o dia que o grande Alex voltará a vestir a gloriosa camisa esmeraldina do Coritiba Foot Ball Club.
Para quem não lembra, esse craque marcou um gol no primeiro jogo da seleção brasileira na Arena do CAP (poodle), além se estar presente em todas as melhores seleções do Coxa de todos os tempos!
Saudações alviverdes!

Parabéns, bela reportagem!